Descubra como ajudar alguém com depressão com estratégias baseadas na ciência e oferecer o suporte certo para uma recuperação mais eficaz.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%, afetando milhões de brasileiros todos os anos.
Entender como ajudar alguém com depressão tornou-se uma necessidade crescente, principalmente considerando que o Brasil é o país com maior prevalência deste transtorno na América Latina.
O apoio social adequado é fundamental no processo de recuperação, pois o contato humano é considerado um dos melhores aliados no tratamento dessa condição mental.
A OMS ressalta que o suporte de familiares e amigos “facilita a recuperação da depressão”, embora seja necessário paciência e perseverança.
Este artigo apresenta estratégias baseadas em evidências científicas e recomendações de especialistas para oferecer um suporte eficaz e compassivo.
A realidade da depressão no Brasil e no mundo
O cenário da depressão no Brasil é alarmante. Dados recentes apontam que 5,8% da população brasileira sofre com este transtorno, o que equivale a aproximadamente 11,7 milhões de pessoas.
Na comparação continental, o Brasil aparece atrás apenas dos Estados Unidos (5,9%) e lidera na América Latina, seguido por Cuba (5,5%), Paraguai (5,2%) e Chile (5%).
As projeções são preocupantes. Segundo a Organização Mundial de Saúde, nos próximos 20 anos, a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, superando até mesmo o câncer e as doenças cardíacas.
A doença também será responsável pelos maiores custos econômicos e sociais para os governos, devido aos gastos com tratamento e às perdas de produtividade.
No âmbito profissional, o impacto é igualmente significativo. Em 2024, o Brasil registrou 472 mil afastamentos do trabalho por ansiedade e depressão, representando um aumento de 68% em relação ao ano anterior e o maior número em pelo menos dez anos.
Este aumento expressivo levou o governo federal a atualizar a NR-1, norma que estabelece diretrizes sobre saúde no ambiente de trabalho, passando a fiscalizar e multar empresas que não atendam aos requisitos de saúde mental.
Reconhecendo os sinais da depressão
Identificar os sintomas da depressão é o primeiro passo para oferecer ajuda adequada. De acordo com o Ministério da Saúde, esta condição caracteriza-se por alterações cognitivas e físicas que persistem por pelo menos duas semanas.
Dentre os principais sintomas, destacamos:
- Sentimentos persistentes de tristeza e vazio.
- Perda de interesse ou prazer em atividades antes apreciadas.
- Alterações no apetite e no peso.
- Distúrbios do sono (insônia ou excesso de sono).
- Fadiga ou perda de energia.
- Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva.
- Dificuldade de concentração e tomada de decisões.
- Pensamentos recorrentes sobre morte ou suicídio.
É importante observar que a depressão pode manifestar-se de maneiras diferentes conforme o gênero e idade.
Estudos mostram prevalência ao longo da vida em até 20% nas mulheres e 12% para os homens. Dados recentes do Instituto Ipsos indicam que as mulheres representam 67% dos casos de depressão no Brasil.
Como ajudar alguém com depressão: estratégias práticas
Ajudar alguém com depressão requer uma abordagem sensível e informada. Especialistas recomendam as seguintes estratégias:
Informe-se sobre a doença
Aprender sobre as causas e tratamentos da depressão é fundamental para oferecer um suporte adequado.
Entender que a depressão não é uma escolha, mas uma doença com componentes genéticos, bioquímicos e ambientais, ajuda a desenvolver empatia e paciência.
Pratique a escuta ativa
Estar presente e disponível para escutar sem julgar é uma das atitudes mais importantes. Diga claramente que quer ajudar e ouça os problemas da pessoa sem emitir julgamentos precipitados.
Frases como “Você não está sozinho. Estou aqui” ou “Eu posso não perceber exatamente o que você está sentindo, mas me preocupo com você e quero te ajudar” podem ser reconfortantes.
Evite minimizar os sentimentos
Frases como “é só uma fase”, “você precisa ser forte” ou “parece que você só quer chamar atenção” podem fazer com que a pessoa se sinta ainda pior e mais isolada.
A depressão é uma doença que acontece em quem tem predisposição genética, portanto, culpar ou fazer cobranças não ajuda.
Incentive a atividade física
Pesquisas comprovam que a prática regular de exercícios físicos ajuda a controlar os sintomas depressivos, pois libera endorfina e serotonina, neurotransmissores responsáveis pela sensação de bem-estar.
Oferecer-se para fazer companhia durante estas atividades pode ser um grande incentivo.
Encoraje a busca por ajuda profissional
O tratamento especializado é fundamental. A depressão frequentemente requer acompanhamento psicológico e, em muitos casos, medicação.
Ajude a pessoa a encontrar profissionais qualificados e ofereça-se para acompanhá-la em consultas iniciais se necessário.
O tratamento profissional
O tratamento da depressão geralmente envolve uma combinação de terapia e, quando necessário, medicação antidepressiva.
Nos últimos anos, a psicoterapia online emergiu como uma alternativa eficaz, especialmente após a pandemia de Covid-19, que acelerou a busca por psicólogos online e a adoção desta modalidade de tratamento.
Estudos científicos têm demonstrado que a terapia cognitivo-comportamental online (eTCC) pode ser tão eficaz quanto a presencial no tratamento de transtornos de humor.
Uma pesquisa realizada pelo St. Vincent Hospital, em Sydney, com cerca de 1.000 pessoas com ansiedade e depressão, revelou que as consultas online alcançaram resultados ainda mais eficazes do que as consultas presenciais, com maior adesão ao tratamento.
Outra revisão sistemática realizada por pesquisadores canadenses analisou 17 estudos que comparavam as modalidades online e presencial da terapia cognitivo-comportamental. Os resultados indicaram que, em muitos casos, a TCC online foi mais eficaz que a presencial na redução da severidade dos sintomas de depressão.
O atendimento online apresenta vantagens significativas em termos de acessibilidade, eliminando barreiras físicas ao tratamento em áreas com menos serviços de saúde, reduzindo custos de transporte e acomodando questões cotidianas como cuidados com crianças ou horários de trabalho.
Este é um ponto especialmente relevante considerando que, em países de baixa e média renda como o Brasil, entre 76% e 85% das pessoas com transtornos mentais não recebem tratamento adequado.
Para pessoas com depressão mais grave, estudos mostram que a terapia online guiada (com acompanhamento profissional) tende a ser mais eficaz, enquanto para casos leves a moderados, a terapia auto-guiada também apresenta bons resultados.
Cuidando de si enquanto ajuda o outro
Quando falamos em como ajudar alguém com depressão, esse suporte pode ser emocionalmente exaustivo.
Por isso, é essencial estabelecer limites saudáveis e praticar o autocuidado para não desenvolver burnout ou outros problemas de saúde mental.
Veja alguns pontos a considerar:
- Reconhecer suas próprias limitações e não assumir responsabilidade pela recuperação da outra pessoa.
- Manter suas próprias redes de suporte social e atividades de lazer.
- Buscar orientação profissional quando necessário.
- Lembrar que você não pode “consertar” a depressão de outra pessoa, apenas oferecer suporte.
Conclusão
Saber como ajudar alguém com depressão requer compreensão, paciência e uma abordagem informada. No Brasil, onde o problema atinge proporções alarmantes, o apoio adequado pode fazer toda diferença no processo de recuperação.
Vale mencionar que a depressão é uma doença tratável, e com o suporte certo, combinado ao acompanhamento profissional, a pessoa tem grandes chances de melhora.
A crescente disponibilidade e eficácia comprovada da psicoterapia online representa um avanço importante, ampliando o acesso ao tratamento especializado.
Mas, independente da modalidade escolhida, o importante é incentivar a busca por ajuda profissional e manter uma rede de apoio consistente e compassiva.
Em um país que lidera os índices de depressão na América Latina, cada um de nós pode fazer a diferença na vida de alguém que enfrenta esta condição.
Informe-se, acolha sem julgar e esteja presente – estas são as bases do suporte efetivo que pode transformar vidas!