Transtorno de dependência pelo uso de álcool: veja causas, impactos na saúde e opções de tratamento para essa condição que atinge milhões no Brasil.
O transtorno de dependência pelo uso de álcool é uma condição crônica e multifatorial que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, caracterizada por um padrão problemático de consumo de álcool que leva a sofrimento significativo e prejuízos em diversas áreas da vida.
Muito além de uma questão de “força de vontade”, trata-se de uma doença reconhecida cientificamente, que envolve alterações neurobiológicas, fatores genéticos, ambientais e psicossociais.
A compreensão desta condição vem evoluindo ao longo das décadas, com mudanças importantes nas classificações diagnósticas e na abordagem terapêutica, permitindo tratamentos mais eficazes e personalizados.
O objetivo da equipe da Unolife com esse artigo é esclarecer todas as suas dúvidas sobre dependência alcoólica, mostrando a importância do suporte profissional!
Entendendo o transtorno de dependência pelo uso de álcool
O transtorno de dependência pelo uso de álcool é definido como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o uso repetido de álcool.
De acordo com a 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças (CID-10), esta condição é tipicamente associada a sintomas como:
- Forte desejo de beber.
- Dificuldade em controlar o consumo.
- Uso continuado apesar das consequências negativas.
- Priorização do uso da substância em detrimento de outras atividades.
- Aumento da tolerância.
- Síndrome de abstinência.
Vale ressaltar que houve uma importante evolução conceitual nos últimos anos.
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em sua 5ª edição (DSM-5), unificou os diagnósticos anteriormente separados de “abuso de álcool” e “dependência de álcool” em um único transtorno chamado “transtorno por uso de álcool” (TUA), classificando-o em leve, moderado ou grave conforme o número de critérios presentes.
A classificação clássica de Jellinek ainda é didaticamente útil, categorizando o alcoolismo em tipos: alfa (social), beta (com complicações físicas), gama (com aumento de tolerância e perda de controle), delta (com incapacidade de manter abstinência) e épsilon (periódico).
Epidemiologia e impacto na saúde pública
Os números relacionados à dependência de álcool são alarmantes. Em 2019, estimava-se que cerca de 400 milhões de pessoas com 15 anos ou mais viviam com transtornos por uso de álcool globalmente, sendo que 209 milhões (52,3%) foram diagnosticadas com dependência.
No Brasil, houve uma leve redução na prevalência do transtorno, de aproximadamente 3,3% da população em 2010 para cerca de 2,9% em 2021.
Entretanto, dados da Pesquisa Nacional de Saúde revelam um aumento preocupante do consumo abusivo de bebidas alcoólicas entre adultos brasileiros, de 13,1% em 2013 para 17,1% em 2019.
Conforme dados recentes da OMS, em 2024 foram registradas 2,6 milhões de mortes por ano atribuídas ao consumo de álcool, correspondendo a 4,7% de todas as mortes mundiais. Homens são desproporcionalmente mais afetados, representando mais de três quartos das mortes relacionadas ao álcool.
Fatores de risco e desenvolvimento da dependência
O desenvolvimento do transtorno de dependência pelo uso de álcool resulta da interação complexa de diversos fatores.
Entre os principais fatores de risco, destacamos:
- Histórico familiar de dependência química, sugerindo componentes genéticos.
- Ambientes onde o consumo é aceito ou incentivado.
- Experiências traumáticas como abuso, negligência ou eventos estressantes significativos.
- Transtornos de saúde mental preexistentes, como depressão e ansiedade.
Outros fatores relevantes incluem:
- Início precoce do consumo, especialmente durante a adolescência.
- Pressão social para beber.
- Fácil acesso ao álcool.
- Certos traços de personalidade, como impulsividade ou baixa autoestima.
É importante compreender que a presença desses fatores aumenta o risco, mas não determina necessariamente o desenvolvimento da dependência.
O transtorno geralmente se desenvolve gradualmente, com o indivíduo perdendo progressivamente o controle sobre o consumo, mesmo diante de consequências negativas evidentes nas relações sociais, na saúde física e no desempenho profissional.
Diagnóstico e sinais de alerta
O diagnóstico é clínico, baseado na avaliação de critérios específicos.
Segundo o DSM-5, a presença de ao menos dois critérios em um período de 12 meses já configura o transtorno, sendo classificado como leve (2-3 critérios), moderado (4-5 critérios) ou grave (6 ou mais critérios).
Entre os principais sinais de alerta estão:
- Consumo excessivo (beber mais do que o pretendido ou com mais frequência que o planejado).
- Desenvolvimento de tolerância (necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito).
- Desejo intenso ou “fissura” por álcool.
- Dificuldade em parar de beber uma vez iniciado o consumo.
- Priorização do álcool em detrimento de outras atividades e responsabilidades.
Outros sintomas incluem o uso continuado mesmo diante de problemas físicos ou psicológicos causados pelo álcool e o surgimento de sintomas de abstinência quando se tenta reduzir ou parar o consumo.
Opções de tratamento
O tratamento da dependência alcoólica deve ser abrangente e personalizado, considerando as particularidades de cada indivíduo.
Entre as abordagens mais eficazes está a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que busca identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais relacionados ao consumo.
Com o avanço da tecnologia, o acesso ao tratamento foi ampliado. Estudos recentes têm demonstrado a eficácia da psicoterapia online para pessoas com dependência de álcool.
Esta modalidade terapêutica tem se mostrado uma alternativa viável, especialmente para quem enfrenta barreiras geográficas ou estigma social para buscar ajuda presencial.
Sessões com psicólogo online podem proporcionar flexibilidade de horários e conforto, aumentando a adesão ao tratamento, além de possibilitar a formação de uma aliança terapêutica de qualidade comparável à obtida em terapias presenciais.
O tratamento muitas vezes envolve também suporte farmacológico, acompanhamento médico contínuo e participação em grupos de apoio.
A abordagem multidisciplinar, com médicos, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais, é fundamental para lidar com as diversas facetas do transtorno.
É importante destacar que o tratamento do distúrbio de dependência pelo uso de álcool é um processo contínuo, com períodos de remissões e recaídas. O prognóstico é mais favorável quando a condição é identificada e tratada precocemente.
Conclusão
O transtorno de dependência pelo uso de álcool é uma condição complexa que afeta milhões de pessoas em todo o mundo e representa um desafio significativo para a saúde pública.
Os psicólogos da Unolife ressaltam que a compreensão como doença crônica e multifatorial, e não como falha moral, é essencial para reduzir o estigma e promover tratamentos mais efetivos.
Os dados epidemiológicos recentes demonstram a magnitude do problema, mas também apontam para avanços no entendimento e manejo da condição. O acesso a diferentes modalidades de tratamento, incluindo opções presenciais e online, amplia as possibilidades de recuperação e reinserção social dos indivíduos afetados.
Para o enfrentamento eficaz desse problema de saúde pública, são necessários esforços contínuos em prevenção, diagnóstico precoce, tratamento adequado e políticas públicas que reduzam o impacto negativo do álcool nas populações mais vulneráveis.